terça-feira, 31 de março de 2009

REMINISCÊNCIAS...

Rio Pomba chora a morte de Lola
Da Redação

VIDA DE CLAUSURA

Remanescente dos 11 filhos do casal, sr. Joaquim Dornellas da Costa e sra. Deolinda Maria de Jesus, Lola nasceu no município de Mercês aos 09 de junho de 1913 e era também a única tia e prima sobrevivente da primeira geração. Uma de suas irmãs, Cesarina, pertencia às Missionárias do S. Coração de Jesus da Congregação Cabriniana, recebendo o nome de Soror Lúcia Nazarena de Jesus. Eram ainda seus irmãos: Alcides, José, Antônio, Nominato, Dolores, Dorvina, Djanira, América e Eurico.
Optando por uma vida de isolamento há 42 anos, sustentada pela força irremovível e poderosa da Sagrada Eucaristia, Lola cercou-se somente de pessoas indispensáveis aos seus cuidados pessoais, de seus pertences e ainda sacerdotes e ministros para receber seu conforto espiritual diário. Em seu quarto conservava-se o altar do S. Coração de Jesus, com a exposição do SS. Sacramento, direito exclusivamente reservado a ela, autorizado pelo então Arcebispo de Mariana, D. Oscar, pela sua vida de acolhimento e oração. O Santo ofício da missa era ali celebrado por sacerdotes pelo menos uma vez por semana e ela sempre recebeu a Sagrada Comunhão das mãos dos ministros da Eucaristia, o saudoso Miguel Geraldo Vieira e sua esposa, Maria Aparecida (Cizinha) Chaves Vieira e sr. Severino Almeida Vieira.
Embora recolhida em seu sítio sem nenhum contato com a vida externa, Lola entregou-se fielmente ao seu mister missionário, propagando o culto ao S. Coração de Jesus com novenário, através do livro “A Grande Promessa do Sacratíssimo Coração de Jesus” e do livro de orações “Amor, Paz e Alegria”, de Pe. Dr. André Prevot (primeiro mestre de noviços da Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus), o qual era ultimamente ofertado àqueles que lhe intercediam orações, tendo algumas pessoas sido privilegiadas com a belíssima imagem de seu devoto.
Em Rio Pomba não há uma só família que não tenha alcançado alguma graça por intercessão das orações de Lola ao S. Coração de Jesus, que também expandiu sua vocação missionária, fundando na cidade o Apostolado da Oração, deixando centenas e centenas de adeptos. Devota a Maria, pertencia à Irmandade das Filhas de Maria.
Na Escritura Declaratória que fez em Cartório, datada em 6 de abril de 1998 com dados sobre sua pessoa, ela especificou que “queria continuar até o fim de sua vida terrena mantendo silêncio, sem divulgação de sua vida, sob qualquer forma, especialmente pela imprensa falada ou escrita, como um direito assegurado a todo ser humano, tanto pela lei de Deus, como pela leis dos homens”. E ainda: “que era feliz, vivia da forma que queria e que tinha direito, orando por todos, recebendo todo tipo de assistência material e espiritual por um grupo de pessoas que lhe dedicava todo carinho e afeto, de forma gratuita, uma vez que seus pais e irmãos já haviam falecido”. Acrescentando que: “queria viver em paz, carregando sua cruz, fazendo-o com muita alegria e fé no Sagrado Coração de Jesus”.
Além da assistência espiritual recebida de todos os vigários que passaram pela cidade e pelos atuais párocos, Pe. Mário Marcelo da Costa e Pe. Evaldo Bosco Zinato, Lola teve como diretor espiritual durante os últimos 13 anos, o Revdmo. Pe. Paulo Dionê Quintão, Vigário Episcopal da Arquidiocese de Mariana, radicado em Barbacena, que a assistia uma vez por semana com a celebração eucarística. O médico dr. Cláudio José Coelho Bomtempo, também daquela cidade, deu-lhe assistência permanente durante os últimos 4 anos.
Sempre queixando-se de dores nas articulações, Lola estava há 4 meses com sua saúde abalada, apresentando insuficiência respiratória e enfraquecimento, vindo a falecer às 0:40 da madrugada, ao lado da freira de Barbacena, Irmã Terezinha Miranda, que também lhe prestava todo seu carinho e assistência diária, em consequência de um choque cardiogênico, insuficiência cardíaca congestiva e sobrecarga ventricular, conforme declaração de óbito, também com o registro das patologias: paraplegia (pós-queda), osteoartrose acentuada e estenose aórtica.
É interessante relatar que 2h e 40 min. antes de sua morte, Lola teve à beira de sua cama, as presenças amigas do dr. Cláudio Bomtempo e do Revdo. Pe. Paulo Dionê, o qual celebrou a Santa Missa concedendo-lhe o conforto espiritual da Eucaristia.
Deixou testamento lavrado em Cartório e a incumbência entre aqueles que a cercavam de dar continuidade a sua obra na propagação da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.


Seus Funerais

Despertada na sexta-feira, 9 de abril, com a dolorosa notícia do passamento de Lola, a comunidade fora imediatamente impelida à Igreja Matriz de São Manoel, onde o corpo já estava exposto desde às 7 horas da manhã para a visitação pública, ali sendo oficiadas nove celebrações eucarísticas durante todo o dia.
Cerca de 5000 devotos e curiosos passaram pelo local e estiveram em vigília durante toda a noite, revezados pelas associações religiosas e grupos de jovens, recebendo Rio Pomba caravanas das mais variadas localidades mineiras e dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, inclusive presenças da mídia mineira e nacional representadas pela Rede Globo de Televisão, Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), TV Alterosa, TV Tiradentes e jornais Estado de Minas, Hoje em Dia, O Tempo, Diário Regional, e outros. Tudo acontecendo num clima de muita ordem, piedade e respeito, sob a organização de católicos voluntários, com o apoio da Polícia Militar. Pessoas de muito longe ou de localidades vizinhas congregaram-se com a comunidade riopombense em sinal de reconhecimento a Lola por graças alcançadas.
Declarado luto oficial por três dias pelo exmo. sr. prefeito Municipal, dr. Antônio Fernando Fernandes Caiafa, foram suspensas as aulas dos educandários e muitas casas comerciais paralisaram suas atividades.
A movimentação ininterrupta cresceu assustadoramente no dia seguinte e o templo de São Manoel foi pequeno para acolher os milhares de fiéis que também concentraram-se na praça em frente à igreja e ruas adjacentes, para assistir o último ofício da Santa Missa presidida pelo Revdmo. Pe. Paulo Dionê Quintão e concelebrada solenemente, sob o brilhantismo do afinadíssimo coral de São Manoel. Estiveram presentes ao ato eucarístico e exéquias da veneranda extinta, além do Vigário Episcopal, Pe. Paulo Dionê Quintão e dos párocos, Pe. Mário Marcelo da Costa (São Manoel) e Pe. Evaldo Bosco Zinato (N. S. do Rosário), que celebrou a cerimônia de encomendação, os sacerdotes: Monsenhor Miguel Falabella (Catedral – J. Fora), Cônego Maurício Saraiva (Santa Cruz – J. Fora), Pe. Luiz Duque Lima (J. Fora), Pe. Nilson Ghetti (J. Fora), Monsenhor Vicente de Paulo Penido Burnier, Pe. Geraldo Magella Dutra (J. Fora), Pe. Nicolau Caetano (J. Fora), Pe. Pedro Lamya (J. Fora), Pe. João Batista Boaventura Leite, C. SS. R. (J. Fora), Pe. José de Oliveira Valente (Alfredo de Vasconcellos), Pe. Cláudio da Silva (Rosário da Limeira), Pe. Joel Martins de Abreu (Rio das Flores, RJ), Pe. Francisco Vidal (Gov. Valadares), Pe. Alvim Valério (Barbacena), Pe. Francisco de Assis Pereira (Pará de Minas), Frei José da Cruz O.F.M. (S. João Del Rei), Pe. Antônio Firmino Lopes Lana (Ubá), Pe. Paulo Arrithi Franco (Contagem), Pe. Jorge Luís de Miranda Vieira (Divinésia), Pe. Semer Salim Oliveira (São Geraldo), Pe. Lindomar José Bragança (Ressaquinha), e diácono Antônio Rodrigues do Prado (Barbacena).
As palavras envolventes do celebrante tocaram profundamente nos fiéis e, precisamente, às 10 horas, a veneranda extinta teve sua saída triunfal do templo, sob os aplausos calorosos de todos que, com muita comoção e gestos de adeus acenavam lenços e davam passagem ao esquife conduzido nos ombros por sacerdotes até o carro de Bombeiros de Juiz de Fora, com a entoação de cânticos de louvor a Jesus e Maria.
Calculou-se o número de mais de 15.000 pessoas no cortejo fúnebre conduzido ao cemitério municipal, não comportando no recinto nem a metade da procissão. A última encomendação foi celebrada pelo Revdo. Pe. Evaldo Bosco Zinato diante do sepulcro, que revestiu-se de variados ramalhetes de flores e coroas póstumas.
As paróquias de São Manoel e de N. Senhora do Rosário celebraram na última quinta-feira, 15, às 19 horas, concorridas solenes missas de 7º dia, muito concorridas, em intenção de sua boníssima alma.
Seu passamento continua atraindo considerável número de fiéis para visitas ao seu túmulo.


Texto redigido por Carmen Lúcia por ocasião do falecimento de Lola e publicado na Edição Especial de O IMPARCIAL, de 18/Abril/1999.

Um comentário:

  1. Ver um blog d'O imparcial na internet significa uma esperança de que o que temos de bom como rio-pombenses se torna acessível à nossa memória, e ao conhecimento das novas gerações.
    Obrigada Carmen Lúcia e a toda família Vieira;
    o tesouro que vocês cuidaram ao longo de gerações (a vida cultural do município) está agora a serviço de quem tiver sensibilidade o suficente para tirar proveito dele.
    Um abraço caloroso

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